INTRODUÇÃO À MORFOLOGIA
O que é morfologia?
A morfologia é a área da gramática que estuda a formação das palavras, sua estrutura e as classes gramaticais. Nessa área de estudo, a palavra é analisada isoladamente, sem, necessariamente, estar inserida em um contexto frasal, por exemplo, como é o caso da sintaxe.
Antes de falarmos propriamente da Morfologia, vamos entender a diferença entre as três áreas de estudo da Gramática – a Morfologia, a Sintaxe e a Semântica. Acima, já vimos quais são os objetos do estudo morfológico (que serão melhor detalhados mais para frente, neste post). Agora, vamos, brevemente, entender o que são as outras duas:
- Sintaxe – é a parte da gramática que estuda a organização das palavras em uma oração (estrutura frasal que, obrigatoriamente, se forma em torno de um verbo ou de uma locução verbal) e a organização das orações em um discurso.
A sintaxe analisa a função que as palavras desempenham em uma oração/período. Essas funções são chamadas “funções sintáticas”. São elas: sujeito, predicado, agente da passiva, predicativos, complementos verbais, complemento nominal, adjunto adverbial, adjunto adnominal, aposto e vocativo. Além disso, ela também analisa o modo como as orações estão organizadas em um texto.
- Semântica – A semântica estuda o significado e a interpretação do significado de um vocábulo, expressão ou até mesmo de uma frase em um determinado contexto.
Alguns conceitos são extremamente importantes no campo da semântica. São eles:
– Conotação – sentido figurado (não literal).
– Denotação – sentido literal.
– Sinonímia – palavras com sentidos semelhantes.
– Antonímia – palavras com sentidos opostos.
– Polissemia – mais de um significado para uma mesma palavra ou expressão.
– Ambiguidade – mais de uma possibilidade de interpretação/duplo sentido.
Entendidos esses conceitos, focaremos, então, na Morfologia a partir de agora. Como foi visto na introdução deste post, essa área estuda a estrutura da palavra, os processos de formação dos vocábulos e as classes gramaticais. Vamos entender cada um desses tópicos?
Estrutura da palavra
O vocábulo é formado por partículas chamadas “elementos mórficos”. Vamos listá-los e exemplificá-los:
b) Vogal temática – É a partícula que aparece entre o radical e a(s) desinência(s). Nos verbos, as vogais temáticas indicam a conjugação.
Ex.: Dançar (1ª conjugação); Comer (2ª conjugação); Dormir (3ª conjugação); Livro
Obs.: Não devemos confundir a vogal temática com a desinência de gênero.
c) Tema – chamamos de “tema” a junção entre o radical e a vogal temática. Quando não houver vogal temática, tema e radical serão a mesma coisa.
Ex.: Dançar; Deduzir; Casa; Livros.
Ex.: Gato (-o indica gênero masculino); Gata (-a indica gênero feminino); Gatas (-s indica plural).
As desinências verbais indicam a possibilidade de flexão em modo (indicativo, subjuntivo e imperativo), tempo (passado, presente e futuro), número (singular e plural) e pessoa (1.ª, 2.ª ou 3.ª pessoa gramatical).
Ex.: Gostaria (-ria indica futuro do pretérito); Durmo (-o indica 1ª pessoa do singular); Cantam (-m indica 3ª pessoa do plural).
e) Afixos – os afixos são as partes que se ligam a uma palavra para formar outra. São eles:
– Prefixos: vêm antes do radical da palavra. Ex.: Desacelerar; Desigual; Impossível.
– Sufixos: vêm depois do radical da palavra. Ex.: Habitável; Felizmente.
f) Consoantes e vogais de ligação – são utilizadas por motivos fonéticos, ligando dois radicais ou um radical e um afixo a fim de ajudar na pronúncia. Não possuem significado.
Ex.: Florzinha (flor – z – inha); Inseticida (inset + i + cida).
Processos de formação dos vocábulos
As palavras, na língua portuguesa, são formadas, principalmente, por dois processos: derivação e composição. Vamos entender cada um?
1. Derivação: as palavras são formadas a partir da junção de afixos a umapalavra ou radical. Há cinco tipos de derivação:
a) Derivação prefixal – Há acréscimo de prefixo à palavra já existente.
Ex.: Infeliz; Autoavaliação; Desculpar.
b) Derivação sufixal – Há acréscimo de sufixo à palavra já existente.
Ex.: Empresário; Principalmente; Folhagem.
c) Derivação prefixal e sufixal – Há acréscimo de prefixo e sufixo de maneira independente. Ou seja, se tirarmos um dos afixos, a palavra continua existindo.
Ex.: Infelizmente (existem as palavras “infeliz” e “felizmente”); Desigualdade (existem as palavras “desigual” e “igualdade”).
d) Derivação parassintética – Há acréscimo de prefixo e sufixo de maneira dependente. Ou seja, se retirarmos um dos afixos, a palavra deixa de existir.
Ex.: Anoitecer (não existe a palavra “anoite” e nem “noitecer”); enlouquecer (não existem as palavras “enlouque” e “louquecer”).
e) Derivação regressiva – A palavra é formada a partir da redução de outra. Normalmente, é o processo que dá origem a substantivos derivados de verbos.
Ex.: Ajuda (vem de “ajudar”); Beijo (vem de “beijar”); Perda (vem de “perder”).
f) Derivação imprópria – Ocorre quando uma palavra não sofre nenhuma alteração na estrutura, mas muda de classe gramatical a partir do contexto.
Ex.: O olhar dela é cativante. (“Olhar”, originalmente, é um verbo. Porém, nesse contexto, torna-se substantivo).
2. Composição: as palavras são formadas a partir da junção de duas (ou mais) palavras ou radicais dando origem a uma nova palavra.
a) Composição por justaposição – nesse caso, a junção das palavras não altera a estrutura inicial delas.
Ex.: Beija-flor; Paraquedas; Peixe-espada; Passatempo.
b) Composição por aglutinação – nesse caso, há alteração na estrutura das palavras formados – como a perda de fonemas, por exemplo.
Ex.: Planalto (plano + alto); Hidrelétrico (hidro + elétrico); Pontiagudo (ponta + aguda)
Obs.: Existem, também, ainda que menos frequentes, outros processos de formação:
a) Abreviação – nesse caso, parte da palavra é utilizada como uma palavra autônoma.
Ex.: Metrô (Metropolitano); Foto (Fotografia); Auto (Automóvel)
b) Hibridismo – Junção de palavras ou radicais que vêm de línguas diferentes.
Ex.: Monocultura – Mono (Grego) + cultura (Latim); Sociologia – Socio (Latim) + Logia (Grego)
Classes gramaticais
As classes gramaticais (ou classe de palavras) são as classificações das palavras a partir de suas características e funções. Existem 10 classes gramaticais e elas são divididas em:
- Variáveis (variam em gênero e número): substantivo, adjetivo, artigo, numeral, pronome e verbo.
- Invariáveis (não sofrem flexão): preposição, interjeição, conjunção e advérbio.
Agora, vamos ver, brevemente, cada uma delas?
a) Substantivo – É a palavra que usamos para designar seres, pessoas, lugares, sentimentos, processos, características e afins. Eles devem funcionar sempre como termo mais importante das expressões nominais das quais fazem parte.
b) Adjetivo – São palavras que modificam substantivos e servem para caracterizar seres, objetos indicando uma qualidade ou defeito, modo de ser, aspecto ou aparência e estado e para estabelecer com o substantivo relações de tempo, de espaço, de matéria, de finalidade, de propriedade.
c) Artigo – São palavras (o, a, os, as, um, uma, uns, umas) variáveis em número e gênero que se antepõem aos substantivos para indicar um ser já conhecido (definido) pelo leitor ou para indicar um representante de uma espécie ao qual não se fez menção anterior (indefinido). Ou seja, os artigos definidos têm a função semântica de especificar, determinar os substantivos, e os indefinidos têm a função de generalizar os substantivos.
d) Numeral – É uma classe de palavras que indica número ou quantidade exata de seres ou o lugar por eles ocupados em uma série. Em seu aspecto semântico, designa o conceito número-ordem, multiplicação e divisão e podemos utilizá-los para intensificar ou atenuar uma ideia.
e) Pronome – é a classe de palavra responsável por acompanhar, substituir ou fazer referência a um nome (substantivo). Essa classe tem a finalidade de indicar a pessoa do discurso ou situar no tempo e espaço, sem utilizar o seu nome. Além disso, em termos morfológicos, são palavras variáveis em gênero (feminino e masculino), número (singular e plural) e pessoa (1ª pessoa, 2ª pessoa ou 3ª pessoa).
f) Verbo – é uma palavra de forma variável que exprime o que se passa, isto é, um acontecimento representado no tempo. Tal expressividade é manifestada em indicações de ação, estado ou fenômenos da natureza.
g) Preposição – É a classe gramatical responsável pela coesão textual no nível vocabular; ou seja, cumpre a função de conectar vocábulos/palavras para estabelecer entre elas, em geral, um nexo semântico.
h) Interjeição – A interjeição é a expressão com que traduzimos uma reação emotiva ou um sentimento. Uma mesma interjeição pode corresponder a sentimentos variados e, por isso, deve-se estar atento ao contexto e à entoação dessa palavra. Assim como os advérbios, as interjeições também são classificadas de acordo com o sentimento que denotam. Ex.: Droga! Estou doente.
i) Conjunção – Conjunção é uma classe de palavra invariável que tem como objetivo ligar termos de mesma função sintática ou orações de mesma função sintática. Elas podem ser classificadas como coordenativas ou subordinativas, dependendo da relação que elas estabeleçam entre as orações. As conjunções e as preposições são, genericamente, chamadas de conectivos visto que atuam na coesão textual.
j) Advérbio – A função básica de um advérbio é modificar um verbo, entretanto, os advérbios de intensidade e formas semanticamente correlatas podem reforçar o sentido de um adjetivo, advérbio, ou ainda uma oração inteira.
Observe os exemplos abaixo, respectivamente:
- Ficara completamente imóvel.
- O homem caminhava muito devagar.
- Eu me recuso, simplesmente.
A classificação dos advérbios ocorre devido à circunstância ou outra ideia acessória que expressam. Entre eles estão os advérbios de afirmação, de dúvida, de intensidade, de lugar, de modo, de negação, de tempo.
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