PROPOSTA DE REDAÇÃO
Bebês reborn: limites e possibilidades dos vínculos simbólicos na contemporaneidade | Tema de redação
Nas últimas semanas, uma nova febre viral tomou conta das redes sociais: vídeos de jovens com bonecas hiper-realistas, os chamados bebês reborn, simulando cuidados, rotinas maternas e até visitas a hospitais. Embora esse movimento desperte críticas e julgamentos, trata-se de uma prática antiga, ligada a uma forma de expressão artística e afetiva. A arte reborn existe há mais de duas décadas e, para muitos, vai além da estética, representa um vínculo simbólico e, por vezes, terapêutico. Em um mundo marcado por carências emocionais, solidão e conexões frágeis, esses laços simbólicos, criados com representações não humanas, como bonecas, pets e até inteligências artificiais, vêm ganhando espaço como forma de conforto e identidade. No entanto, é preciso compreender os limites entre o lúdico e o real, os benefícios possíveis e os riscos de fuga emocional excessiva.
Proposta de Redação sobre bebês reborn
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Bebês reborn: limites e possibilidades dos vínculos simbólicos na contemporaneidade”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Desse modo, selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para a defesa de seu ponto de vista.
Textos motivadores sobre bebês reborn
Texto I – Bebês reborn: entenda o que são e por que chamam atenção
Nas últimas semanas, mulheres que produzem conteúdos com bonecos hiper-realistas, os chamados bebês reborn, têm sido alvo de críticas e polêmicas nas redes sociais. A prática, no entanto, vai muito além da aparência realista e da atuação nas redes: trata-se de um trabalho artesanal minucioso, que mobiliza afetos, debates sociais e até ações de preconceito. Y.B., uma adolescente do interior de Minas Gerais, viralizou ao publicar um vídeo em que leva seu bebê reborn, Bento, ao hospital. Apesar do tom fictício, o conteúdo causou reações extremas. Comentários como “isso é normal?”, “vai se tratar, louca” e “caso de psiquiatra” se multiplicaram, mostrando como parte do público ainda não compreende o universo dos vínculos simbólicos. A arte reborn não se resume aos vídeos. É um processo artístico delicado, que envolve várias etapas: da escolha do material (vinil ou silicone) até o sombreamento da pele, inserção de fios de cabelo e simulação de detalhes realistas como veias, manchas e unhas. Além da produção artesanal, algumas mulheres encontram nos reborns uma forma de hobby ou até de acolhimento emocional. Segundo a psicóloga Larissa Fonseca, atividades lúdicas como brincar com bonecas podem ativar áreas do cérebro ligadas à criatividade e ao relaxamento, desde que não se tornem um mecanismo de evasão da realidade. O interesse pelo reborn não é recente. A influenciadora Nane Reborns coleciona bonecas há mais de 20 anos e, atualmente, soma mais de 240 mil seguidores. Famosos também aderiram ao fenômeno: o padre Fábio de Melo e a apresentadora Nicole Bahls possuem bebês reborn em casa. O tema chegou ao cinema com o filme Uma Família Feliz, estrelado por Grazi Massafera, que interpreta uma artesã de reborns. Fonte adaptada: CNN Brasil
Texto 2 – Bebês reborn: entre o consolo emocional e os limites da realidade
Confeccionados artesanalmente com materiais como vinil e silicone, os bebês reborn chamam atenção por sua aparência hiper-realista. Além de cabelos implantados fio a fio e veias simuladas, alguns modelos apresentam até mecanismos de respiração e batimentos cardíacos. Embora tenham surgido como peças de coleção nos Estados Unidos na década de 1990, seu uso tem se expandido no Brasil, inclusive como forma de conforto emocional. Para muitas pessoas, os bebês reborn funcionam como representações simbólicas de vínculos afetivos. Há quem os utilize para elaborar lutos, preencher vazios existenciais ou simplesmente exercitar a maternidade como papel social simbólico. Em alguns casos, o vínculo com essas bonecas pode auxiliar no tratamento de quadros depressivos ou transtornos de ansiedade, sendo usados inclusive em contextos terapêuticos, como a terapia ocupacional. Entretanto, especialistas alertam para os limites dessa prática. A psiquiatra Carla Mendes destaca que o bebê reborn pode funcionar como um objeto de transição emocional saudável, desde que o uso não substitua a realidade. Quando a pessoa passa a simular integralmente a maternidade, levando o boneco ao hospital ou exigindo prioridade em filas públicas, por exemplo, o comportamento pode sinalizar uma ruptura entre fantasia e realidade que merece atenção clínica. Em síntese, a arte reborn envolve tanto possibilidades de expressão afetiva e conforto psicológico quanto riscos de fuga da realidade e conflitos de convivência. O fenômeno traz à tona discussões relevantes sobre os limites da empatia, a função terapêutica dos objetos e os desafios da saúde mental em tempos de solidão e hipermídia. Fonte adaptada: Hospital Santa Mônica
Texto 3 – Bebês reborn e o debate público: quando o vínculo simbólico exige limites legais
A recente onda de popularidade das bonecas hiper-realistas conhecidas como bebês reborn tem ultrapassado o universo das redes sociais e alcançado o Congresso Nacional. Somente em maio de 2025, três projetos de lei foram protocolados na Câmara dos Deputados com o objetivo de regular a relação entre colecionadores e esses objetos de representação humana. O crescimento do fenômeno e as polêmicas que o cercam provocaram discussões sobre saúde mental, uso indevido de serviços públicos e os limites entre o lúdico e o real. O primeiro projeto, proposto pelo deputado Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP), proíbe a simulação de atendimentos médicos a bonecas reborn em hospitais públicos e privados, restringindo tais práticas a lojas especializadas no segmento. A proposta estabelece sanções administrativas para instituições que permitirem esse tipo de atendimento e multa de até R$ 50 mil para os casos de reincidência. Outra iniciativa, de autoria da deputada Rosângela Moro (União-SP), propõe a criação de uma política de acolhimento psicológico no Sistema Único de Saúde (SUS) voltada a pessoas com vínculos afetivos intensos com bebês reborn ou outros objetos simbólicos. O projeto destaca que o objetivo não é criminalizar os vínculos, mas sim oferecer apoio adequado diante de manifestações emocionais atípicas. Além disso, o deputado Zacharias Calil (União-GO) apresentou proposta que prevê multas entre 5 e 20 salários mínimos (podendo chegar a R$ 30 mil) para pessoas que tentarem utilizar bonecas reborn para obter privilégios sociais indevidos, como atendimento prioritário em filas, uso de assentos especiais ou descontos em serviços. A sanção será aplicada mesmo que a tentativa de benefício não se concretize. Fonte adaptada: G1 – Política
Texto IV – Charge: a ironia do afeto seletivo e a invisibilidade da infância pobre
A charge, publicada no perfil @seriilustrador, retrata dois meninos em situação de rua. Um deles, deitado no chão em posição fetal, diz: “Imitando bebê reborn pra ver se alguém me adota”. A cena é carregada de ironia crítica, ao confrontar o afeto exagerado que a sociedade dedica a bonecas hiper-realistas com o abandono de crianças reais em situação de vulnerabilidade. A frase provoca um choque simbólico: enquanto a adoção de “bebês reborn” se torna tendência e até motivo de engajamento nas redes sociais, crianças reais seguem marginalizadas, sem políticas públicas efetivas ou amparo familiar. O contraste aponta para um tipo de afeto seletivo que romantiza o simbólico e ignora o concreto.

A imagem, portanto, atua como denúncia social, escancarando uma contradição entre o afeto encenado e o cuidado efetivo. É um convite urgente a refletir sobre os limites entre fantasia, consumo emocional e responsabilidade coletiva.
Fonte adaptada: @seriilustrador (Instagram)
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