FILÓSOFOS, SOCIÓLOGOS, ANALISTAS DO DISCURSO NA REDAÇÃO

MICHEL FOUCAULT

Michel Foucault – Wikipédia, a enciclopédia livre


Foucault tratou de temas como loucura, sexualidade, disciplina, poder e punição, hoje vistos em várias áreas do conhecimento. Em História da Loucura, ele procura mostrar como o conceito de loucura mudou através dos tempos. Uma de suas ideias fundamentais é que a loucura não é algo da “natureza” ou uma “doença”, como acreditavam os psiquiatras, mas um “fato de cultura”.
Foucault também reflete sobre o sistema penal e a filosofia do poder, que aparecem amalgamados em Vigiar e Punir: História da Violência nas Prisões. O objetivo do livro era pensar toda a “tecnologia do poder”, que teria surgido no século XVIII. Para o filósofo, o domínio no qual se exerce o poder não é a lei, mas, sim, a norma, que produz condutas, gestos e o próprio indivíduo moderno.
Para regular a vida dos indivíduos existe o “poder disciplinar”, empregado em hospitais, escolas, fábricas e prisões. Para explicar essa nova forma de disciplina e vigilância, Foucault cita o clássico exemplo do Panóptico (literalmente, “vê-se tudo”) para prisões. 

A aplicação de Michel Pêcheux na Redação do Vestibular

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Acredito que muitos alunos nunca ouviram falar deste grande estudioso do discurso e muito menos aplicar sua teoria à redação. Como professora de redação, costumo pensar que antes de tudo, considero-me uma analista do discurso, desse modo, minhas aulas de produção textual tornam-se mais ricas, pois há dizeres que mesmo negados, já foram ditos por outros, em uma reprodução. 
A teoria do assujeitamento de Michel Pêcheux, é extremamente rica e possível de ser utilizada em um grande número de temáticas. Outrossim, por experiência própria em correções, percebo que o repertório sociocultural ainda é uma das grandes dificuldades do aluno. 
Vejamos, então, um pouco dessa teoria.
Primeiro, a de se pensar no homem não como um ser físico, mas um ser abstrato que carrega ideologias, como uma reprodução. Olhem o que eu disse em um de meus trabalhos sobre isso:
"Todo discurso que produzimos foram provenientes de discursos-outros, de condições de produção anteriores, assim, eu-sujeito de minha história, de minha ideologia, diante de meu lugar social, pertenço não ao meu dizer, mas àquilo que já foi proferido, aos já-ditos, aos pré-construídos, discursos transversos. Quando o sujeito aponta para outros discursos, há uma sustentação do sentido, já que o completa em significação."
Veja da seguinte forma, quando digo que "fulana tem um cabelo ruim", reproduzo um discurso proferido desde o modo de produção escravista em que tudo que era oriundo das características do negro era ruim, entendeu?
Assim, quando há uma temática que fala sobre "favelas, como sendo o quintal da zona urbana", muitos poderiam atrelar essa localidade à criminalidade. Conforme falo para meus alunos, o próprio surgimento das favelas e o contexto socio-histórico de sua origem, fazem com que reproduzamos um pré-conceito sobre as favelas. Estas surgiram depois da Lei Áurea em que muitos escravos e imigrantes europeus não tinham condições financeiras para morarem na zona urbana do Rio de Janeiro, e suas condições sociais os "empurraram" para os morros onde ergueram suas barracas e assim foram surgindo as favelas.
Perceba, desde essa época, reproduzimos uma ideologia de que as favelas são locais de gente ruim, criminalidade e não percebemos que, muitos de nós apenas reproduzimos esse preconceito, às vezes sem nem mesmo percebermos. Isso é o "assujeitamento" a que Pêcheux se refere.
É o que digo abaixo:
"sujeito proferindo seus discursos como se tudo o que falasse fosse da sua própria vontade e não da implicação de uma ideologia agindo sobre o seu dizer."

Zygmunt Bauman



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A FILOSOFIA DE BAUMAN
O sociólogo polonês Zygmunt Bauman utilizou o conceito de “Modernidade Líquida” (ou “Pós-Modernidade”) como forma de explicar como se processam as relações sociais na atualidade. Para Bauman, a modernidade “sólida”, forjada entre os séculos XIV e XV e cujo apogeu se deu nos séculos XIX e XX, teve como traço básico a ideia de que o homem seria capaz de criar um novo futuro para a sociedade, que cresceria em paralelo a uma vida enraizada em instituições fortes e presentes, como o Estado e a família. A confiança no homem e em sua capacidade de moldar o próprio futuro seria o principal traço desse período.
Segundo Bauman, a partir das últimas décadas, sobretudo após a queda do Muro de Berlim, em 1989, essa modernidade “sólida” estaria em desintegração e seria gradualmente substituída por uma modernidade “líquida”. A palavra liquidez remete à fluidez, ausência de forma definida, velocidade, mobilidade e inconsistência. Esses seriam, para ele, justamente, os traços essenciais das relações sociais na atualidade.
A antiga confiança “sólida” num futuro perfeitamente arquitetado pela razão foi substituída pela incerteza. O futuro tornou-se nebuloso e indefinido. As “distopias” ou as “utopias negativas” ganham força – sabe-se apontar problemas e dificuldades no mundo, mas poucos sabem oferecer alternativas consistentes a esses problemas e dificuldades. Como disse Leo Strauss, “a liberdade sem precedentes também foi acompanhada pela impotência sem precedentes. Criticamos o mundo, nunca estamos satisfeitos, mas raramente sabemos o que fazer com nossas críticas”. O sistema capitalista aparece para esses homens pós-modernos como a única realidade possível, posto que eles duvidam  que o ser humano possa criar uma realidade diferente.
Incertos quanto ao futuro das sociedades, os homens pós-modernos têm fixado suas esperanças e expectativas no presente, no instante e no indivíduo; por todos os lados, os anúncios publicitários e as revistas conclamam as pessoas a “aproveitar o agora”, “pensar em si mesmas”. O ser humano pós-moderno substitui os projetos para o futuro pelo prazer instantâneo, a produção pela especulação, o conteúdo pela performance, a experiência pela flexibilidade e os sonhos pelas ambições.
Além disso, a sociedade líquida, pouco apegada aos seus antecedentes, é obcecada pela novidade: a nova notícia, a nova promoção, o novo carro, a nova rede social. Os laços que uniam os homens ao passado são cortados, e vive-se numa espécie de “eterno presente”. Os produtos se renovam diariamente, e os empresários não temem anunciar que os próprios objetos produzidos já estão “atrasados”. Da mesma forma, os trabalhadores do século XXI vivem numa constante liquidez, numa permanente incerteza e medo de ser “descartados”, posto que a mobilidade e a flexibilidade das empresas são tamanha que, a qualquer momento, cortes inesperados e mudanças de planos podem acontecer. A solidez das convicções, assim, foi substituída pela liquidez do instante. Nos laços amorosos, observa-se a mesma tendência: relacionamentos fluidos, inconstantes e momentâneos caracterizam nossa época, que consagrou o conceito de “ficar”, expressão da liquidez do amor.

Entender Sartre para a Redação Vestibular

A FILOSOFIA DE SARTRE
Jean-Paul Sartre
Jean-Paul Sartre (Reprodução/Reprodução)
“Professor! E Sartre na redação do vestibular
 – posso usar?”
“Não importa o que fizeram com você, mas sim o que você faz com o que fizeram de você”. Em época de redação de vestibular, vejo alguns professores (!) ensinando os alunos a utilizarem essas frases para rechear seus textos. O aluno é educado, então, para se transformar nos palestrantes que carregam títulos de filósofos por aí. Tornam-se fazedores de frases de auto-ajuda, texto motivacional ou texto falsamente problematizador ou até pessimista – também é moda a auto-ajuda pessimista, dá um ar blasé ao palestrante, e ele parece culto. O resultado para quem obedece esse tipo de coisa é que pode realmente nunca mais sair da condição de ser um palestrante, ou seja, corre o risco de nunca mais poder pensar.
A frase é de Sartre, e já vi um bocado de gente que acha que entende de filosofia repeti-la e explicá-la. Mas de modo errado. A doutrina de Sartre é explicada por esse pessoal capenga como adepta da filosofia que exige do homem a liberdade, que o faz responsável extremado pelos seus atos, desconsiderando as relações sociais. Há até alguns que citam a vida infantil de Sartre, a perda do pai, e como que ele superou todas as condições histórico-sociais para realizar o que tinha de realizar. Ele, Sartre, construiu seu destino. Um herói. Uma interpretação assim faz de Sartre um filósofo da essência, no sentido contrário da filosofia da existência que ele defendeu.
Sartre elegeu a existência como o que é feito pelo barro adamítico. A existência não é a condição do homem. O homem é que não é homem sem existir como homem, ou seja, completamente prenhe das dificuldades da vida de homem. Desse modo, se o homem é alguém livre, alguém que escolhe, ele não o faz por ser aquele que tem uma essência a se realizar, mas sim alguém que vai criando um projeto no interior dos mil e um projetos em que já está, não deliberados por ele.
Muitos pensam o homem essencial, que é livre por estar fora do mundo e, então, uma vez no mundo (nascimento, queda, “incorporação”, etc), pode recordar de sua missão extra-mundo, anterior, e decidir realizá-la. Ou pode inventar uma e usar de sua essência não mundana para se por como fazedor de projetos mirabolantes. Ora, Sartre não reconhece o homem como sendo assim, ele só vê o homem como homem enquanto aquele que está sempre sendo produzido pelos outros. “Não importa o que fizeram com você”. Claro que importa. O “não importa”, nessa frase, é para poder abrir espaço para o que é enunciado após a vírgula: “mas sim o que você faz com o que fizeram com você”. Nesse caso, o que fizeram com você já foi feito. Você sempre pode decidir, mas segundo o que já fizeram de você. Siga o exemplo abaixo.
Posso sair da cadeia hoje e, então, me importar em não voltar a ela, decido não cometer nenhum crime, mas sou um ex-presidiário, não vou apagar isso da cabeça dos outros, terei de saber viver com isso; dizer isso, pensar assim, é me importar em fazer algo de mim, diferente, mas a partir do que eu mesmo já fiz e do que me fizeram: matei um fascista que estava ameaçando minha família, e isso foi ato meu; mas talvez não tenha sido um ato meu me deixar apanhar e ter então me tornado um presidiário para, agora, ser ex-presidiário. Tenho agora de enfrentar pessoas que não estão nem aí para a condição de fascista do meu agressor, que eu agredi e matei. Importa agora, para muitos, o ser humano que matei. Sou ex-presidiário e, para muitos, eterno assassino. Vou operar minha vida nessas condições, não tenho outra, sou o que sou, agora, com meu RG e minha história. Não tenho outra vida ou outra história. Agora, tenho o que tenho. Não tenho nenhuma essência a realizar. Tenho apenas esse meu corpo e essa minha cabeça geográfica e historicamente situadas, já bem feitas por tudo que fiz e pelo que fizeram de mim. Vou operar com isso. Essa é a minha liberdade. Essa é a única liberdade. Vou ter de tomar decisões, exercer essa liberdade. Esse é o conceito de liberdade de Sartre.
Posso fazer o que com o que foi feito de mim até agora? Posso fazer tudo – sou livre. Mas quem pode fazer tudo? Eu! Não outro com mais inteligência que eu. Ele talvez possa fazer mais. Entre eu e o outro mais inteligente, ambos somos livres, mas em termos probabilísticos ele não terá mais liberdade, e sim aquilo que, depois, diremos: “teve mais sorte”. E isso se a inteligência dele, ou outros recursos, lhe trouxerem sucesso. Alguns então dirão, para negar Sartre: “ah, o ex-presidiário não podia mesmo se dar bem, ele não teve mais liberdade de opções”. Ora, chance não é liberdade para Sartre. Liberdade em Sartre é o ato de decisão que, enfim, tomamos, decidindo positivamente ou simplesmente não decidindo nada – o que é também uma decisão. Daí a frase “o homem é escravo da liberdade”. A liberdade não está posta antes ou depois, só na hora da decisão. Ela é o que se exerce, fora disso, é apenas conversa sobre liberdade, acepção de liberdade etc. A liberdade depende para ocorrer como liberdade que o homem se projete no mundo na hora da decisão. A decisão de seguir um caminho já posto ou outro, ou criar novo, ou não fazer nada.
É isso.


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