PROPOSTA DE PRODUÇÃO TEXTUAL
TEXTO I
Música: pura ou plural?
Na década de 1960, o movimento Tropicália trouxe novos ares à música brasileira, uma vez que o ritmo da Bossa Nova era considerado o grande símbolo do país. Para promover o sincretismo cultural, vários artistas incorporaram influências estrangeiras, como o uso da guitarra elétrica e a psicodelia, porém, parte da população rejeitou essa manifestação artística, incitando que os estilos musicais deveriam ser puramente nacionais. No entanto, é de se questionar até que ponto essa “pureza cultural” não incita à segregação.
Em primeiro lugar, a ampliação de novos estilos é fruto da liberdade criativa de cada autor. Desde as Vanguardas Europeias, o rompimento de padrões e a valorização da criatividade proporcionaram a inúmeros artistas a extensão de horizontes e a possibilidade de integração. Segundo o músico Chico Buarque, as melodias brasileiras unem-se aos boleros cubanos e aos ritmos mexicanos, de modo que haja uma assimilação musical e, ao mesmo tempo, um resultado inovador e único.
É importante ressaltar, ainda, que não há uma segregação total do samba diante das influências do exterior. De acordo com o compositor Paulinho da Viola, o samba teve origem no continente Africano e possui marcas da cultura portuguesa, sendo reflexo de uma antropofagia musical. Neste sentido, o samba brasileiro absorveu os traços estrangeiros e se transformou, a partir dessa mescla, numa caracterização tipicamente brasileira: calorosa e popular.
Dessa maneira, portanto, percebe-se que a noção de “pureza cultural” é resultado da mistura nacional e estrangeira. A música brasileira não segrega, pelo contrário, integra diferentes culturas e transmite à população o enriquecimento de conhecimentos e estilos. Tal como nos anos 60, o que temos hoje é a inovação de distintos arranjos musicais e o reflexo da identidade do país vinculada às melodias. Fonte: Descomplica.
TEXTO II
Críticas a 'Que tiro foi esse?' e outras canções levantam a questão: a música brasileira está pior? Há alguns dias, um texto (erradamente) atribuído a Arnaldo Jabor circulou pela internet atacando a qualidade da música que se ouve hoje no Brasil. Partindo do refrão do sucesso "Que tiro foi esse?", de Jojo Todynho, o artigo trazia frases como "Que tiro foi esse? Que acertou os tímpanos do nosso povo, fazendo-os ouvir lixo achando que é música". O cantor e compositor Jorge Vercillo foi um dos que compartilharam a história em seu perfil no Facebook. Em dezembro, Lulu Santos, observador atento há décadas da música das periferias, que costuma trazer pra perto de sua própria produção, já havia soltado um comentário do mesmo teor no Twitter: "Caramba! É tanta bunda, polpa, bumbum granada e tabaca que a impressão que dá é que a MPB regrediu pra fase anal. Eu, hein?". Os hits são novos, mas a polêmica é antiga. Veja a pancada a seguir: "é a mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens". Acha que é sobre lambada? Dança da garrafa? Funk? Longe disso - e por muitas décadas. Foi assim que o "Diário do Congresso Nacional" de 8 de novembro de 1914 reagiu a uma música de Chiquinha Gonzaga, "Gaúcho", famosa como "Corta-jaca". Esse é um de muitos exemplos de artistas que já foram atacados e (em algum nível) acabaram legitimados e aceitos pela nobreza da MPB ou pela academia. Os exemplos passam por Pixinguinha, Luiz Gonzaga, E o Tchan. E nem a bossa nova escapou. Foi chamada de mera cópia da música americana por Tinhorão. - Por trás dessas reações está sempre o mesmo princípio: o preconceito. Mas não tem como. Tudo isso representa a música brasileira - diz Ney Matogrosso. - O funk, sim, é calcado na estética americana, e essa talvez seja minha única crítica. Mas o ritmo, eu adoro. Quanto ao aspecto sexual, não vejo problema. A umbigada vem lá dos escravos, né? É o tal negócio: se não gosta, come menos; se não se interessa, não ouve. Fred Coelho, professor de Literatura da PUC-Rio, vai ainda mais fundo ao investigar o traço (racial, moral, social) que atravessa essas críticas há mais de um século. Ele explica que a leitura que se fazia dos artistas era determinada pelas origens deles: "músicos de favelas", "de classe média", "nordestinos", "urbanos", "caipiras". - Nas últimas décadas, tais marcações foram deslocadas para temas mais políticos. As favelas tornam-se periferias tecnológicas globalizadas, caipiras dominam as paradas com as variações do sertanejo e músicos regionais produzem do tecnobrega e da guitarrada paraense ao som primoroso de Siba ou da rabeca da Thomas Rohrer. Só a música de clásse média - a canção popular radiofônica dos anos 1980 e 90 - permanece no mesmo lugar, segundo Coelho. E esse talvez seja um dos motivos das críticas, do estranhamento entre quem está estabelecido e quem chega como novidade. Uma dinâmica que pode até vir a ter efeitos positivos: - A saída, talvez, seja entender que essa dinâmica faz com que parte do público ouça, sem distinção, Mr. Catra, Luan Santanna, Pabllo Vittar, Zeca Pagodinho e, certamente, Luíu Santos. Pode ser um aprendizado ver como um músico que é pura história da canção sofisticada brasileira, como Chico Buarque, comentou esse quadro em "Caravanas". Fonte: Leonardo Lichote e publicado no Jornal "O Globo", em fevereiro de 2018.
PROPOSTA
"a música brasileira está pior?". Para responder a tal indagação, Leonardo Lichote vale-se da história da recepção da música pela crítica especializada, de testemunhos de artistas e da indicação de vários exemplos. A partir disso, ele faz o leitor compreender os motivos que o levam a expor um ponto de vista acerca da questão. Sem dúvida, o assunto é controverso e o texto não ignora isso!
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