GILLE LIPOVETSKY



O filósofo francês Gilles Lipovetsky, um dos principais nomes dos estudos sobre consumo e hipermodernidade. Lipovetsky trouxe ao público uma abordagem atual da sociedade em diversos tipos de comportamentos sobre a sedução. Em um de suas falas, o filósofo abordou a sedução no processo familiar e como a relação entre pais e filhos se estabelece no processo de construção da identidade social das crianças.

"Os pais querem agradar os seus filhos levando para jantar, passear, presentear. O presente é um exemplo de sedução dos pais para com os seus filhos. No mundo antigo, a educação não tinha nada a ver com a sedução. Eles tinham um pulso firme em relação a isso. Contudo, no processo contemporâneo, a sedução dos pais está muito ligada ao poder de comprar e persuasão para fortalecer os laços com os filhos, muitas vezes atingindo níveis maiores que a própria educação", salientou Lipovestky.

Várias formas de sedução na sociedade moderna, dentre elas, regimes políticos, o relacionamento familiar, as redes sociais e a sedução da comunicação em massa.

Lipovetsky afirmou que as redes sociais são, atualmente, o meio que mais seduz as pessoas no mundo. De acordo com ele, as pessoas se vislumbram bastante com os seguidores, curtidas e comentários, fazendo com que a vida real se torne refém da vida virtual.

"Com o advento das redes sociais estamos vendo o nascimento de um novo narcisismo na sociedade. O narcisismo social busca atingir os outros com fotos e comentários. Não é simplesmente estético. As pessoas esperam ser reconhecidas pelas suas redes sociais, tornando, assim, escravas da própria sedução", ressaltou.

Lipovetsky cita três tipos de seduções atuais, que está ligada estritamente à sociedade de consumo em massa, sobretudo em relação à publicidade. O filósofo afirmou ainda que a sociedade vive em uma tentação permanente e que a sedução refaz a lógica da mudança no imaginário social.

Gilles terminou a sua falando fazendo um comparativo com o mundo atual e a sociedade 50 anos atrás e enfatizou que, atualmente, as pessoas estão mais egocêntricas e individualista por causa da sedução do consumo, em que a informação exacerbada transformou o indivíduo e a sua forma de observar o mundo em que vive e tudo aquilo que a sedução do consumo representa, principalmente, aos jovens da contemporaneidade.

O capitalismo de consumo é o motor do crescimento nas sociedades hipermodernas, o nervo da economia. Desde os anos 1950 o capitalismo se entranhou no consumo de massa, e isso transformou os modos de vida. Hoje em dia Don Juan é um sedutor ultrapassado, muito pequeno, não é nada se comparado ao capitalismo que seduz sem parar milhões e milhões de homens, mulheres, crianças, idosos. Publicidade, séries, filmes, destinos turísticos, música... estamos em um universo que não é mais o da disciplina coercitiva, mas o de uma máquina de estímulos, um sistema de tentações que diz sem parar “veja, isso é magnífico, bom, você gostará”. 

A individualização degradou os enquadramentos coletivos. Antes pertencíamos a um coletivo de trabalho, de bairro e de religião, e isso fornecia amparo aos indivíduos que viviam em condições difíceis, dava-lhes uma espécie de segurança interior. Hoje temos liberdade, podemos mudar de profissão, de mulher, de religião, a vida privada é livre, mas os indivíduos se tornaram extremamente frágeis. Vemos o reflexo disso nas tentativas de suicídio, no estresse, na depressão, nos vícios. Há uma fragilização da vida individual que torna problemático aquilo que vivemos. Os pais não têm certeza de como educar os filhos, informam-se, leem livros, questionam-se se são bons. O mesmo vale para a alimentação, se é bom ou não para a saúde... A sociedade da sedução permitiu mais liberdades, mas essa autonomia individual cobra um preço alto, a fragilidade psíquica. Não devemos condená-la, mas, novamente, enriquecê-la.

Fontes: Diário do Nordeste; Fronteiras.

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