OS AMALDIÇOADOS DISTRATORES DE GRANDES PROVAS
O que os antigos chamavam de “pegadinha”, hoje é mais elaborado: é “distrator”
Olá... Segue texto oficial com marcações específicas e orientações, do documento oficial de realização de questões do INEP:
Os distratores indicam as alternativas incorretas à resolução da situação-problema proposta. Além disso, essas respostas devem ser plausíveis, isto é, devem parecer corretas para aqueles participantes do teste que não desenvolveram a habilidade em questão (Haladyna, 2004). Isso significa que o distrator plausível deve retratar hipóteses de raciocínio utilizadas na busca da solução da situação-problema apresentada. Como consequência, se esse distrator retrata uma dificuldade real do participante com relação à habilidade, não devem ser criadas situações capazes de induzi-lo ao erro. A utilização de erros comuns observados em situação de ensino-aprendizagem costuma aumentar a plausibilidade dos distratores. Por outro lado, aqueles que retratam erros grosseiros ou alternativas absurdas, dentro ou não do contexto do item, tendem a induzir a identificação da alternativa correta.
Se traduzirmos os tecnicismos do texto oficial acima, e interpretarmos à luz da prática para os alunos: o que seriam os “distratores”? São elementos construídos no texto intencionalmente construídos para criar dúvida no candidato. Como eles são feitos: eles devem ser “plausíveis”... ou seja, compatíveis a uma verificação possível; devem construir “hipóteses de raciocínio”, ou seja, caminharem segundo uma ordem de pensamento. Sabe aquela tônica do “parece mais não é”. Isto é um distrator.
Na verdade ele é criado na questão, baseado numa linha de raciocínio errônea que o candidato pode pensar, para seduzir para o caminho aparentemente mais fácil. É um caminho de indução... vamos a exemplos, porque somente eles podem identificar distratores. Descobrirá no exemplo abaixo, que o segredo para evitar os distratores está no comando (que marcarei em azul). O “comando” é a ordem dada pela questão... a problematização, a situação problema delimitada pelo sistema, ao qual cobra as competências do candidato. Também vale marcar os núcleos, tanto da explicação frequente em questões do ENEM, quanto das alternativas (marcarei em tom de pele, e verá um traço frequente de comportamento nas questões do ENEM)
Um amor desse
Era 24 horas lado a lado
Um radar na pele, aquele sentimento alucinado
Coração batia acelerado
Bastava um olhar para eu entender
Que era hora de me entregar pra você
Palavras não faziam falta mais
Ah, só de lembrar do seu perfume
Que arrepio, que calafrio
Que o meu corpo sente
Nem que eu queira, eu te apago da mente
Ah, esse amor
Deixou marcas no meu corpo
Ah, esse amor
Só de pensar, eu grito, eu quase morro
AZEVEDO, N; LEÃO, W. QUADROS, R. Coração pede
socorro. Rio de Janeiro: Som Livre, 2018 (fragmento).
ENEM: Essa letra de canção foi composta especialmente para uma campanha de combate à violência contra as mulheres, buscando conscientizá-las acerca do limite entre relacionamento amoroso e relacionamento abusivo. Para tanto, a estratégia empregada na letra é a
a) revelação da submissão da mulher à situação de violência, que muitas vezes a leva à morte.
b) ênfase na necessidade de se ouvirem os apelos da mulher agredida, que continuamente pede socorro.
c) exploração de situação de duplo sentido, que mostra que atos de dominação e violência não configuram amor.
d) divulgação da importância de denunciar a violência doméstica, que atinge um grande número de mulheres no país.
e) naturalização de situações opressivas, que fazem parte da vida de mulheres que vivem em uma sociedade patriarcal.
Note, e isto é importantíssimo, que é frequente que o núcleo central da alternativa no ENEM se apresenta no início das alternativas. Isto não acontece sempre, mas é de uma frequência constante. Neste sentido... o desvio pode estar nesse núcleo... ou no elemento periférico que o acompanha... concorda? É isso mesmo.
- em (a) há submissão da mulher... há.. isso é um distrator... está te induzindo à resposta porque se encontra no texto. Mas não se fala de morte. Outra questão: o "comando" é sobre estratégia comunicativa. E esta não é uma estratégia
- em (b) o núcleo não se encontra no texto... já no periférico há pedido de socorro.. mas a expressão continuamente já também desconstrói a hipótese. Além... é mais uma que nao valida o comando.
- em (c) há duplo sentido.. isso se valida... que inclusive relativizam atos de violência e a amor. Além.... é uma estratégia comunicativa, o que responde ao "comando. A chance de ser a alternativa C.... é enorme, pois validada todas as variantes. Mesmo assim prosseguimos.
- em (d) não ocorre divulgação de importância de denúncia... e o alto índice de violência contra a mulher é uma apropriação que é especulada. Além.. também não valida o comando.
- em (e) naturalização soa como validação de atitudes agressivas, o que é uma afirmação perigosa, e neste sentido pode ser reveladora do graud ideológico de deslocamento do aluno.
Como viram, tudo que aparece nas alternativas, se não for encontrada no texto fonte, ao menos é encontrada no contexto. Estes são "distratores", respostas plausíveis, prontas para te enganar.
A escolha de que caminho seguir nessa aprendizagem, é sua. Cabe a nós, mostrar como é feita a pedagogia de uma prova e como ampliar qualidade técnica.
Comentários
Postar um comentário