PROPOSTA DE PRODUÇÃO TEXTUAL
No
texto abaixo transcrito a crítica literária Noemi Jaffe deixa transparecer a
maneira como entende o que seja resistência. “Pessoas resistem — não permitem
que forças externas alterem seus princípios e valores; suportam dificuldades
aparentemente inimagináveis; não revelam segredos, nem sob penas e dores terríveis.
Por vezes, resistem mesmo quando parece que se entregam: uma resistência
semelhante à da água, maleável, mas nem por isso menos resistente. A linguagem
também resiste. Se tratadas com rigor, propriedade e tino poético, as palavras
sustentam brancos dolorosos, reagem com forças ainda maiores do que as que
sobre elas foram aplicadas; suportam fardos, banalizações e driblam poderes.”
(Texto de apresentação do romance Resistência de Julien Fuks ao leitor. O texto
encontra-se nas orelhas do livro publicado pela Companhia das Letras, São
Paulo, em 2015.)
Seguindo
as instruções abaixo, produza um texto dissertativo-argumentativo — entre 20 e
30 linhas — discorrendo sobre o que você
entende por resistência. Seu texto deve, obrigatoriamente, resumir e
comentar algum episódio para servir de ilustração da sua concepção. Você pode,
indicando a fonte, fazer menção a pelo menos uma das situações abordadas nos
textos da prova, as quais orientam atitudes de resistência.
TEXTO
I
— Então que há de novo por aí?
perguntou. — Tudo velho...Você vai se chegando pra casa... — Hum-hum, afirmou o
Campos com a garganta. Chegou o vapor do Pará? — Chegou; sai amanhã para o Sul
às nove. É verdade! o Mundico vai nele, sabe? — É! Ouvi dizer que tinha brigado
com o Pescada. — Brigou, hein?... — Diz que por causa de dinheiro; que Raimundo
pedira-lhe certa quantia emprestada, e, como o outro negara, disparatou! —
Homem! não sei se pediu dinheiro, mas a filha sei, por fonte limpa, que pediu!
— E o galego? — Negou-a! diz que porque o outro é mulato! — Sim, em parte...
aprovou Sebastião. — Ora, deixe disso, seu Campos! Não sei se é porque não
tenho irmãs, mas o que lhe asseguro é que preferia o doutor Raimundo da Silva a
qualquer desses chouriços da Praia Grande! — Não! lá isso é que não admito!...
Preto é preto! branco é branco! Nada de confusões! — Digo-lhe então mais!
asneira seria a dele se se amarrasse, porque o cabra é atilado às direitas! —
Sim, lá isso faria... confirmou o Campos, entretido a quebrar a caliça da
parede com a biqueira do chapéu- -de-sol. Aquilo está se perdendo por cá... é
homem para uma cidade grande!.. Olhe, ele talvez faça futuro no Rio...Você
lembra-se do...? — E segredou um
nome ao ouvido do Casusa. — Ora! como não? Muita vez dei-lhe aos cinco e aos
dez tostões, para comer, coitado! E hoje, hein? — É! Foi feliz... mas, quer que
lhe diga? não acredito lá essas coisas no futuro deste, por causa daquelas
ideias de repúblicas... porque, convençam-se por uma vez de uma coisa! a
república é muito bonita, é muito boa, sim senhor! porém não é ainda para os
nossos beiços! A república aqui vinha dar em anarquia!... — Você exagera, seu
Sebastião!... — Não é ainda para os nossos beiços, repito! nós não estamos
preparados para a república! O povo não tem instrução! É ignorante! é burro!
não conhece os seus direitos! — Mas venha cá! replicou o Casusa, fechando no ar
a sua mão pálida e encardida de cigarro. Diz você que o povo não tem instrução;
muito bem! Mas, como quer você que o povo seja instruído num país, cuja riqueza
se baseia na escravidão e com um sistema de governo que tira a sua vida
justamente da ignorância das massas?... Por tal forma, nunca sairemos deste
círculo vicioso! Não haverá república enquanto o povo for ignorante, ora,
enquanto o governo for monáquico, conservará, por conveniência própria, a
ignorância do povo; logo — nunca haverá república! — E será o melhor!... — Eu
então já não penso assim! Acho que ela devia vir, e quanto antes! tomara eu que
rebentasse por aí uma revolução; só para ver o que saía! Creio que, somente
quando tudo isto ferver, a porcaria irá na espuma! E será espuma de sangue, seu
Sebastião! AZEVEDO, Aluísio. O mulato. São Paulo: Ática, 1998, p.183-4.
TEXTO
II
Um velho Timbira, coberto de glória,
Guardou a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi!
E à noite, nas tabas, se alguém
duvidava
Do que ele contava,
Dizia prudente: — “Meninos, eu
vi!
“Eu vi o brioso no largo terreiro
Cantar prisioneiro
Seu canto de morte, que nunca
esqueci:
Valente, como era, chorou sem ter
pejo;
Parece que o vejo,
Que o tenho nest’hora diante de
mi.
“Eu disse comigo:
Que infâmia d’escravo!
Pois não, era um bravo;
Valente e brioso, como ele, não
vi!
E à fé que vos digo: parece-me
encanto
Que quem chorou tanto,
Tivesse a coragem que tinha o
Tupi!”
Assim o Timbira, coberto de
glória,
Guardava a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi.
E à noite nas tabas, se alguém
duvidava
Do que ele contava,
Tornava prudente: “Meninos, eu
vi!”.
DIAS, Gonçalves. I-Juca-Pirama
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