PROPOSTA DE PRODUÇÃO TEXTUAL

Problemas de hoje ilustrados em estilo retrô | Super

TEMA: SOLIDÃO E INDIVIDUALISMO NA PÓS-MODERNIDADE

TEXTO I


"Pode-se adquirir tudo na solidão, menos o caráter". O pensamento de Stendhal é capaz de aterrorizar diversas pessoas dos dias atuais, principalmente os jovens, nos quais a solidão é romantizada, e o individualismo, valorizado. O ser humano, animal essencialmente sociável, vê-se retraído e intimidado diante de um mundo que não assume mais nenhuma forma fixa, que está em constante mudança. Por isso, a velocidade com que tudo acontece ao redor do globo hoje, causada sobretudo pelo crescimento das redes sociais, aumenta cada vez mais a dificuldade de diversos indivíduos se relacionarem.
Após um longo período restrito apenas às pessoas que o cercavam, atualmente o ser humano conta o grande avanço da tecnologia de informação, em especial nas últimas décadas, para se relacionar com qualquer indivíduo no planeta. Por isso, era esperado que o homem se expressasse ainda mais diante do mundo, e interagisse ainda mais facilmente. Entretanto, o que é verificado é uma dificuldade extrema de muitas pessoas para se expressarem àqueles que as rodeiam, o que as leva a um isolamento real, de forma com que os contatos sociais se dessem apenas de forma virtual.


TEXTO II

Os indivíduos líquidos

Os indivíduos “líquidos” estão preocupados em buscar o prazer individual, o sucesso individual, abdicando a concepção de bem-estar da coletividade. A atual sociedade está sendo regida cada vez mais pelos valores e regras do Mercado, cujas concepções introjetam no indivíduo as ideias de concorrência, de felicidade no consumo e que o indivíduo basta em si mesmo.
O Mercado não propicia um planejamento de vida, já que os empregos são cada vez mais voláteis, temporários e flexíveis. Se antes alguém entrava numa determinada empresa e se aposentava nela, agora, isso não existe mais (as pessoas passam por várias experiências e são sondadas frequentemente pelo desemprego). O Estado também não consegue colocar em prática aquilo que prometeu, não consegue garantir os direitos sociais básicos. Cada vez mais oferece menos aos cidadãos.
Com o advento da modernidade líquida, a estrutura social moderna em torno da fixidez, da razão e do progresso se dilui. Para o sociólogo polonês Bauman, as relações passam a ser voláteis. As instituições sociais passam por uma descrença e não são mais pontos de referência.
A sociedade estrutura suas relações principalmente pelas conexões virtuais, passando a perder ou a desconhecer as noções de intimidade, de privacidade e de individualidade – há uma necessidade de comunicar tudo nas redes sociais, a rotina do dia a dia (desde um café da manhã a uma briga com a namorada) é divulgada.
Costumo brincar com os meus alunos que o cogito de Descartes mudou para: “estou nas redes sociais, logo existo”. Perde-se o tempo interior, a reflexão com a realidade. Isso tem intensificado a solidão e modificado a maneira da produção do trabalho (cada vez mais é incentivado o trabalhador a realizar suas funções em casa e através de aplicativos colaborativos).
Nesta mesma perspectiva, presenciamos a liquidez dos valores. O conhecimento é fragmentado e apressado (como se fosse um fast-food). Mal a pessoa lê uma manchete de revista ou de jornal já acha que domina o assunto. No Brasil, é incrível a quantidade de “pensadores” nas redes sociais. Conseguem concordar ou refutar rapidamente uma ideia sem nenhuma reflexão. É comum encontrarmos pessoas que criticam o pensamento de Marx sem nunca ter lido sequer um livro dele ou de pessoas que querem definir o pensamento político da direita sem conhecer nenhum autor dessa corrente. Isso é devido ao processo de “aceleramento do tempo”, no qual tudo tem que ser feito instantaneamente. Contudo, o conhecimento e a reflexão são processos que levam tempo.
Os valores éticos, os quais são pensados desde a Antiguidade Clássica estão em crise. Por exemplo, o nosso bom e velho conhecido, o filósofo Aristóteles, dizia que o exercício da ética leva à felicidade e a responsabilidade do indivíduo. Para ele, ética é um hábito, portanto, precisa ser praticada. Para os iluministas, a liberdade de um sujeito termina quando começa a de outro, o que reflete a ideia de bem comum, de respeito. Na sociedade líquida o que interessa é a vontade individual: “se eu quero, eu posso”. A partir disso, a liberdade do outro é desrespeitada. É comum encontrarmos pessoas em lugares coletivos como, por exemplo, no ônibus, ligar o seu celular ou rádio em altura alta, obrigando os demais escutarem a mesma música – isso também se verifica no trânsito ou em outras esferas das relações sociais.
O medo se transforma em uma política tanto do Estado como do Mercado, o que restringe a liberdade. Há o medo do desemprego. Há o medo de se relacionar amorosamente (as relações são frágeis e incertas). O medo de ficar doente e não conseguir atendimento. Há seguros para tudo, que vão desde o seguro de carro ao seguro de vida. A indústria do medo faz com que as pessoas cerquem suas residências, se distancie do contato com outras pessoas e as áreas públicas são evitadas. A violência aumenta em números vertiginosos. As incertezas são diversas. Fonte: https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/sociologia-de-zygmunt-bauman-aplicada-redacao-enem-concursos-e-vestibulares/

TEXTO III

A ideia de pós-modernidade surge, portanto, nesse momento de crise de valores e de modelos de interpretação do real. Aceita-se que o mundo pós-moderno é um mundo heterogêneo, formado de conceitos que ora se confluem em um mesmo sentido, ora divergem, caminhando em sentidos completamente opostos. A contemporaneidade é um tempo que carrega múltiplas possibilidades de leituras e interpretações, uma época conhecida pela fragmentação da noção do todo que leva a uma consequente ascensão da pluralidade de experiências. Tal momento está além das certezas dos discursos, da ideia de unidade, da razão, da ruptura com a noção do permanente, do tempo, do espaço, tudo que era sólido perde sua forma, para assumir outra e romper-se em pequenas frações, em uma eterna mutação, um período marcado por oscilações do saber. À vista disto, os sujeitos são imersos em um novo tipo de achatamento ou falta de profundidade, um novo tipo de superficialidade no sentido mais literal. Há o surgimento de um mundo construído com base em sistemas, mais objetivo, que impõe os princípios da quantificação e da eficiência a todas as atividades, produções culturais, modos de vida e de cosmovisão. É a chamada globalização do capital, das condições de produtividade, do mercado, do lucro e das exigências desse mesmo mercado, é nesse caos desorganizado que os homens parecem estar perdendo o sentido da vida e o da própria identidade. Fonte: Ariane Avila Neto de FARIAS UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE, Brasil

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