PADRÕES DE REDAÇÃO VESTIBULAR - FUVEST; UNICAMP

 PADRÃO FUVEST DE REDAÇÃO



Anualmente, a Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), responsável pelo processo seletivo da Universidade de São Paulo (USP), seleciona mais de oito mil alunos por meio do vestibular tradicional da universidade. Dividido em duas etapas, a segunda parte do processo de seleção da Fuvest conta com 46 questões discursivas e uma redação, que é considerada um pesadelo para os concorrentes. O motivo? Ao contrário da redação do Exame Nacional dos Estudantes (Enem), o candidato não precisa fazer uma proposta de intervenção, mas sim analisar os fatores que provocam o tema proposto pelos textos de apoio.

"Eu, particularmente, acho que é mais difícil [a redação da Fuvest], porque o Enem pede para que a gente se organize em torno de um problema para resolver. A Fuvest pede para que a gente analise algo, e não, necessariamente, para que a gente diga se está certo ou errado. Em geral, não é muito habitual do candidato se colocar nessa posição de análise", explica Gabriela Carvalho, coordenadora de redação do Poliedro. 

Qual é o formato de redação da Fuvest?

Assim como no Enem, o tipo de redação cobrado no vestibular da USP é o texto dissertativo-argumentativo, que pede que o candidato apresente uma ideia sobre o tema apresentado por meio de argumentação. 

Quais são os critérios de correção da redação da Fuvest?

"Os aspectos de natureza de senso crítico, que são cobrados superficialmente por grande parte das instituições, no caso da Fuvest é cobrado com um nível de rigor maior na parte de tema. Além disso, a coesão textual, seja no projeto de texto, em termos de sequenciação, seja internamente nos parágrafos, e os aspectos gramaticais também costumam cobrados com mais rigor nessa prova", aponta professor de língua portuguesa Carlos André, do Instituto Carlos André. Em resumo, a redação é corrigida seguindo três parâmetros: argumentação sobre o tema, estruturação e linguagem. "A Fuvest usa critérios que são bastante clássicos para olhar para a dissertação, e ela divide esses critérios em três grandes blocos", aponta Gabriela. Veja como é feita a correção da redação:

  •  1º bloco:  avalia se o candidato escreveu o texto dentro do tema e o desenvolvimento da argumentação sobre o tema abordado;
  •  2º bloco: avalia estrutura, coesão e coerência;
  •  3º bloco:  avalia a linguagem utilizada no texto. Por exemplo, normal culta e estruturação sintática.

Como estudar para a redação da Fuvest?

Segundo a coordenadora de redação do Poliedro, a melhor forma de estudar para a redação do vestibular da USP (e de qualquer outro processo seletivo) é refazendo as edições da prova. 

Ou seja, é preciso avaliar os temas abordados em anos anteriores e entender qual é a filosofia cobrada naquela redação. "Nesse caso, a melhor saída é entender que essa não é uma prova que está pedindo para que o candidato aponte se é algo que está certo ou errado. A Fuvest pede que o estudante analise o que tem na sociedade que faz com que aquele tipo de fenômeno, que foi apresentado pelos textos motivadores e pela coletânea, aconteça.

Quais são os possíveis temas de redação da Fuvest?

Diferentemente do Enem, não é possível apontar certeiramente quais temas podem ser cobrados na redação da Fuvest. Por quê? Esse vestibular aborda temas mais sociológicos e que analisem a sociedade como um todo.  Um exemplo citado por Gabriela é o tema de redação cobrado em 2015: "Camarotização da sociedade brasileira: a segregação das classes sociais e a democracia"

"Nesse caso, é para falar de camarotização, mas é também para falar sobre uma sociedade que se estabelece, por exemplo, em torno do dinheiro, que faz com que as pessoas acreditem que o valor delas é muito dado por aquilo que elas podem pagar. Acho que é esperado que a Fuvest vá por esse caminho porque a análise tende a ser sociológica", explica. Para a coordenadora, há duas perguntas que podem ajudar o candidato a se organizar para abordar qualquer temática que seja cobrada na prova, são elas: 

  • O que mantém o tema acontecendo?
  • Como é que o indivíduo reage sobre o fenômeno abordado?

"É preciso analisar se esse indivíduo reage, se ele fica parado, passivo, a gente naturaliza uma série de coisas. Acho que esses caminhos costumam ser interessantes [para abordar na redação]", reforça a coordenadora. Para o professor de língua portuguesa, Carlos André, outra dica é ficar de olho em assuntos do dia a dia, mas que possam receber uma abordagem mais pragmática e, consequentemente, possam se tornar num assunto mais filosófico. "Eu diria que nós estamos muito próximos a trabalhar coisas como Síndrome de Burnout, ligada à sociedade do cansaço – é uma perspectiva que me chama muito a atenção, a crise do processo democrático também, sobre a perspectiva da filosofia, da democratização ou da democracia, como ela funciona. Então, tudo isso pode ser tema da Fuvest", aponta o professor como possíveis temas. Fonte: Quero Bolsa.

PADRÃO UNICAMP DE REDAÇÃO

Você já ouviu falar da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)? Considerada uma das melhores universidades da América Latina pela Times Higher Education (THE), essa instituição, localizada no interior paulista, é uma das mais concorridas do Brasil.  Anualmente, milhares de estudantes de todo o País tentam ser aprovados pelo seu rigoroso processo seletivo. Em 2019, 72.859 candidatos estão concorrendo às 2.570 vagas oferecidas pelo vestibular 2020. 

Composto por duas fases, sendo a primeira com questões objetivas e a segunda com discursivas, essa prova passou por uma grande mudança de composição em 2019: a partir deste ano, o candidato terá que fazer apenas uma redação! 

Anteriormente, a Unicamp cobrava dos candidatos duas redações, com temas e gêneros textuais diferentes. "Essa é a mudança mais profunda no vestibular. Até o ano passado, o candidato tinha que escrever dois textos e agora ele escolhe apenas o que ele se sentir mais a vontade, seja pelo gênero ou pelo tema", aponta Sérgio Paganim, coordenador de Linguagens do Anglo Vestibulares.

Qual é a estrutura da redação?

"A redação da Unicamp tem uma estrutura que é, de certa forma, desconstruída. Ela não tem uma disposição pré-formatada, como é a maioria das provas de redação dos vestibulares que temos atualmente", explica Diogo. 

Ou seja, além do tema diferente a cada ano, o gênero textual cobrado também é alterado anualmente.

Alguns dos tipos de redação cobrados em anos anteriores foram: resenha, texto científico, relatório e comentário de internet. Para o professor do Colégio pH, esses gêneros tornam a redação mais real, ou seja, o candidato consegue relacionar a assuntos do seu dia a dia. 

"É um texto em que o aluno vai ter que pensar como se estivesse naquela situação, tendo atenção à pertinência da linguagem, não ficar preso a um modelo pré-definido, compreender que, dependendo do gênero, será necessário usar uma linguagem mais informal mesmo", frisa Diogo.

Por que a Unicamp cobra gêneros textuais diferentes?

Desde a edição de 2011, o vestibular da Unicamp cobrava a produção de duas redações, sendo cada uma de um gênero diferente. Esse estilo de prova permaneceu até este ano, quando o formato do vestibular mudou, e os candidatos receberão duas propostas de redação, mas serão obrigados a produzir apenas uma

Porém, entre os principais vestibulares do Brasil, a Unicamp é uma das poucas que ainda cobra dos estudantes diferentes gêneros textuais a cada ano.

Para Sério Paganim, essa escolha se deve a uma linha de estudos modernos de linguística, que propõe que o aluno em situações mais concretas pode demonstrar melhor a sua capacidade de leitura e de produção textual. 

"Uma coisa é ele escrever um texto dissertativo sobre um tema qualquer, a outra é estar inserido em um cenário, em um contexto que acaba interferindo totalmente na escrita. Por mais que uma cena, isso exige que o candidato entre num contexto de produção mais concreto. Por isso que existe essa perspectiva de serem gêneros textuais diferentes", explica Paganim.

O professor e coordenador ainda aponta que a Unicamp não divulga quais serão os gêneros cobrados nas próximas edições porque ela supõe que a escola já tenha colocado os alunos em contato com esses diferentes tipos de texto.

Diogo D'Ippolito reforça que esse tipo de cobrança valoriza a capacidade do candidato em pensar estratégias que possam se adaptar aos gêneros avaliados.

A redação da Unicamp é mais difícil do que a do Enem?

Os gêneros e temas cobrados por esse vestibular mudam todos os anos, mas, afinal, esse tipo de redação é mais fácil ou mais difícil do que a do Enem? 

"Na visão dos alunos, eles acreditam que é mais difícil, pois é uma proposta que dá muita liberdade e eles estão acostumados com modelos pré-formatados. É uma redação marcada pela imprevisibilidade. Pelo lado docente, não há essa comparação de mais fácil ou mais difícil, e sim que é uma prova diferente que exige outros recursos e vai avaliar com outros critérios", explica Diego. 

Já para Paganim, isso depende do preparo prévio do aluno, mas que, para ele, esse tipo de redação é mais confortável de produzir, já que está inserida em um contexto mais real e concreto. "No geral, as propostas de gêneros textuais da Unicamp acabam sendo confortáveis, por serem mais verossímeis, mais próximas do mundo real", reforça.

O que fazer quando o gênero for inusitado?

Nos últimos anos, alguns dos gêneros cobrados pelo vestibular foram:

  • 2015: síntese e carta-convite;
  • 2016: resenha e texto de divulgação científica;
  • 2017: carta e texto de apresentação;
  • 2018: palestra e artigo de opinião;
  • 2019: abaixo-assinado e postagem em fórum;
  • Para o professor de redação, Diogo D'Ippolito, a melhor estratégia é tentar visualizar aquela situação no mundo real. Assim, o candidato poderá utilizar alguma referência do seu dia a dia, mesmo que ele não tenha tanta familiaridade com o gênero. 

    "Outra estratégia que pode ajudar é se ater às instruções que são dadas na prova e às orientações do texto base. Muitas propostas têm comandos que são listados para o candidato e é importante estar atento a eles" relembra Diogo.

    Entretanto, apesar das variações de gêneros textuais, não fique com medo, a Unicamp dificilmente cobrará alguma tipo que já não tenha sido abordado em sala de aula.

    "A Unicamp tem muita consciência de são alunos oriundos do Ensino Médio. Então, ela não vai jogar um gênero inusitado sem dar apoio na proposta e no parágrafo de instrução. A dica mais importante é: não se apavore com o gênero, porque se for algo que a banca sabe que pode ser considerado mais inusitado, a própria proposta é auxiliadora", aconselha Paganim.

    Como estudar para a redação da Unicamp?

    Assim como em outras redações, apesar das variações de gêneros textuais, as indicações para ir bem são parecidas com as de outros vestibulares como, por exemplo, ficar atento às regras gramaticais, estudar os tipos de texto que podem ser cobrados e ficar de olho nas edições anteriores.

    Entretanto, uma unanimidade entre os dois professores é: preste muita atenção no parágrafo de instrução da proposta de redação escolhida! Isso é primordial para o que o aluno tenha um bom desempenho na redação.

    "Essa parte tem todos os recursos que o candidato precisa para montar o texto. Quem ele será, para quem ele escreverá, qual é o gênero solicitado pela banca, quais são os itens que ele precisa cumprir, que é algo que faz parte da estrutura do planejamento, pois tudo isso será cobrado na avaliação", explica Sérgio Paganim sobre a importância da instrução. 

    A Unicamp possui ainda como prática colocar em negrito as palavras-chave com as indicações do que o candidato deve fazer no gênero pedido. Veja o exemplo de uma das redações cobradas no vestibular 2018 da universidade:


    O coordenador de Linguagens do Anglo reforça que é mais importante atender a tudo o que esse parágrafo indica, do que se preocupar apenas com o gênero pedido.

    "Isso é algo que o pessoal da Unicamp fala com todas as letras: mais importante do que a preocupação com as características formais dos gêneros, é a preocupação em o texto atender a todos as demandas que foram feitas no parágrafo de instrução", reforça.

    Dica extra: estratégia de redação! 

    O coordenador de Linguagens do Anglo Vestibulares indicou uma estratégia para que os candidatos consigam aproveitar o tempo de prova para fazer uma boa redação.

    Dividida em três partes, essa fórmula recomenda que o participante mescle as questões discursivas cobradas no exame com as etapas da produção da redação (escolha do tema, rascunho e texto final):

              1. Leitura das propostas, fazer a seleção do projeto de texto que mais se encaixa nas suas habilidades (intervalo com duas questões);
              2. Execução do texto no rascunho (intervalo com mais duas questões);
              3. Revisão gramatical e dos recursos de linguagens, e aí passar a limpo a redação.

              "Assim, você otimiza a produção do texto e também controlar melhor a qualidade de cada uma dessas etapas", finaliza Paganim. Fonte: Quero Bolsa.




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