OBRAS LITERÁRIAS MAIS IMPORTANTES PARA OS VESTIBULARES 2020 E SUA RELAÇÃO COM A REDAÇÃO

 1. QUARTO DE DESPEJO


Carolina Maria de Jesus era uma anônima até o lançamento do seu primeiro livro, Quarto de Despejo. Publicado em agosto de 1960, a obra era uma reunião de cerca de 20 diários escritos pela mulher negra, mãe solteira, pouco instruída e moradora da favela do Canindé (em São Paulo). Quarto de Despejo foi um sucesso de vendas e de público porque lançou um olhar original da favela e sobre a favela. Traduzido para treze idiomas, Carolina ganhou o mundo e e foi comentada por grandes nomes da literatura brasileira como Manuel Bandeira, Raquel de Queiroz e Sérgio Milliet. No Brasil, os exemplares de Quarto de Despejo alcançaram uma tiragem de mais de 100 mil livros vendidos em um ano.

Resumo de Quarto de Despejo

O livro de Carolina Maria de Jesus narra de modo fiel o cotidiano passado na favela. Em seu texto, vemos como a autora procura sobreviver como catadora de lixo na metrópole de São Paulo, tentando encontrar naquilo que alguns consideram como sobra o que a mantenha viva. Os relatos foram escritos entre 15 de julho de 1955 e 1 de janeiro de 1960. As entradas no diário são marcadas com dia, mês e ano e narram aspectos da rotina de Carolina. Muitas passagens sublinham, por exemplo, a dificuldade de ser mãe solteira nesse contexto de extrema pobreza. Lemos num trecho presente no dia 15 de julho de 1955:

Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo dos generos alimenticios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente somos escravos do custo de vida. Eu achei um par de sapatos no lixo, lavei e remendei para ela calçar.

Carolina Maria é mãe de três filhos e dá conta de tudo sozinha. Para conseguir alimentar e criar a família ela se desdobra trabalhando como catadora de papelão, metal, e como lavadeira. Apesar de todo o esforço, muitas vezes sente que não dá conta. Nesse contexto de frustração e extrema pobreza, é importante se sublinhar o papel da religiosidade. Diversas vezes, ao longo do livro, a fé aparece como um fator motivador e impulsionador da protagonista. Há passagens que deixam bem clara a importância da crença para essa mulher lutadora:

Eu estava indisposta, resolvi benzer-me. Abri a boca duas vezes, certifiquei-me que estava com mau olhado.

Carolina encontra na fé força, mas também muitas vezes explicação para situações cotidianas. O caso acima é bastante ilustrativo de como uma dor de cabeça é justificada por algo da ordem do espiritual. Quarto de Despejo explora os meandros da vida dessa trabalhadora mulher e transmite a dura realidade de Carolina, o constante esforço contínuo para manter a família de pé sem passar maiores necessidades:

Saí indisposta, com vontade de deitar. Mas, o pobre não repousa. Não tem o previlegio de gosar descanço. Eu estava nervosa interiormente, ia maldizendo a sorte. Catei dois sacos de papel. Depois retornei, catei uns ferros, uma latas, e lenha.

Por ser a única a prover o sustento da família, Carolina trabalha dia e noite para dar conta da criação dos filhos. Os seus meninos, como ela costuma chamar, passam muito tempo sozinhos em casa e vira e mexe são alvo de críticas da vizinhança que dizem que as crianças "são mal inducadas". Fonte: Cultura Genial.

2.Vidas secas - Graciliano Ramos


“Vidas secas”, de Graciliano Ramos, é um clássico da literatura regionalista dos anos 1930 e pode ser usado para ajudar você a contextualizar alguns temas de redação. Veja, a seguir, como usar a obra literária na redação do ENEM:

MIGRAÇÕES

Em “Vidas secas”, de Graciliano Ramos, as personagens principais deslocam-se em busca de um lugar onde seja possível trabalhar e viver com alguma dignidade. No primeiro capítulo, depois de um período de chuva, os retirantes acabam se estabelecendo em uma fazenda abandonada. Ali, passam um bom período. Meses depois, porém, com a chegada da seca, empreendem uma fuga, na direção do sul do país, em busca de melhores condições de vida.
Não há dúvida de que os deslocamentos realizados pelos protagonistas são análogos àqueles movimentos de pessoas denominados de êxodo rural que se fizeram presentes, por exemplo, nos anos 1960 e 1970, quando da expansão da fronteira agrícola no Brasil.

BIOMAS BRASILEIROS

Em toda a obra de Graciliano Ramos, há uma apresentação detalhada da paisagem nordestina. Em “Vidas secas”, por exemplo, assim como em outras obras do regionalismo modernista da primeira metade do século XX, a paisagem agreste do sertão — evidenciada por mandacarus, juazeiros, chuvas escassas, pelo azul do céu espelhado nos olhos de Fabiano e pelo vermelho da paisagem queimada que se faz notar na barba e no cabelo ruivos — acaba funcionando como um obstáculo para a fixação do homem à terra.

DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA NO TERRITÓRIO NACIONAL

Há um destaque, no livro, para a ausência de chuvas [fenômeno natural responsável pela intensificação do êxodo rural], que permite tanto pensar na falta de ações para a distribuição equitativa de água no território brasileiro, quanto na desertificação do bioma da caatinga, acentuada pela ação do homem e pela falta de políticas de preservação da natureza.

CRISE HÍDRICA

A seca, presente no título da obra e na vida das personagens, pode ser discutida como uma questão tanto antrópica [intensificada pela destruição da natureza, levada a cabo durante os processos de expansão da pecuária extensiva, da urbanização desordenada, bem como da derrubada da vegetação para a produção de lenha e de carvão vegetal. Fonte: Manoel Neves.


3. O Cortiço - Aluísio Azevedo

Mesmo tendo sido escrito há mais de 100 anos, o livro continua muito atual, evidenciando pautas que ainda estão presentes no Brasil:

  • segregação nas cidades e ocupação urbana desordenadao livro se passa em um cortiço, local insalubre onde vivem pessoas desprestigiadas socialmente. Elas moram nesse local em função da mudança de dinâmica dos lugares em que estavam antes: é a chamada gentrificação:

“(…) a chegada de moradores de alta renda atrai investimentos ao bairro, que elevam os valores dos aluguéis. Isso deixa os preços inviáveis para a população de menor poder aquisitivo que ali vivia. Logo, ela tem de se mudar para locais mais afastados.”

  • problemas ambientais urbanos e impactos na saúde: os moradores do cortiço tinham de conviver com a falta de saneamento básico, que ocasionava focos de doenças, sendo propícia a animais vetores de enfermidades.
  • imigração: no livro, são mostrados personagens imigrantes, vindos de Portugal. Um deles, Jerônimo, acaba sendo bastante modificado pelo contexto em que está inserido: o português altera radicalmente seus hábitos e costumes ao longo do tempo no cortiço.
  • pedofilia: em determinada parte do livro, a personagem Pombinha, que era menor de idade, foi abusada pela prostituta Léonie, que forçou um princípio de relação sexual com ela. Isso é escrito de modo explícito, não proporcionando outras interpretações: o consenso não aconteceu.
  • exploração do trabalhador: o personagem João Romão é a representação do capitalista que quer enriquecer por qualquer meio; desde a exploração de seus subordinados (como a antiga escrava Bertoleza, que trabalhava intensamente), até o roubo de  material de construção e dinheiro, por exemplo. Fonte: Imaginie.


4. Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis

Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, demonstra a dificuldade de inclusão social das pessoas com deficiência, na qual a personagem Eugênia é rejeitada pelo protagonista por ser ''coxa''. Nesse tocante, no Brasil do século XXl, a falta de acessibilidade aos deficientes em boa parte do país emerge como um grave impasse social. Tal situação ocorre, primordialmente, devido à ausência de uma ação mais efetiva do Estado, devido também ao preconceito enraizado em parte da população. Fonte: Imaginie.

Resumo do enredo

Memórias Póstumas é uma narrativa confusa e sem linearidade. O personagem principal, como sugere o título, resolve, depois de morto, contar a história da sua vida através de uma seleção dos episódios mais relevantes, desde o seu nascimento até a sua morte. Essa narrativa não segue, porém, nenhuma sequência cronológica. Ele inicia pelo seu delírio e morte, depois conta o seu nascimento e vai alternando, sem qualquer critério lógico, episódios de diversas fases da sua vida, sempre com uma alta dose de humor e visão pessimista.

Brás Cubas nasceu em uma família rica e proprietária, o que lhe possibilitou nunca precisar “comprar o pão com o suor do seu rosto”. Na infância, foi um menino endiabrado. Protegido pela conivência paternal, maltratava os escravos, aprontava com as visitas e desrespeitava os adultos.

Na adolescência, envolveu-se com uma prostituta que o explorou por vários meses, mas que ele, em sua narrativa, resume na famosa frase: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis”

Foi mandado pelo pai à Europa para estudar e esquecer Marcela. Nunca levou os estudos a sério. De volta ao Brasil, conheceu Eugênia, moça bonita e romântica, filha de uma amiga da sua mãe. Brás Cubas lembra de que, quando criança, flagrara, durante uma festa na casa do pai, a mãe de Eugênia beijando um homem casado atrás de uma moita. Como Eugênia não tinha pai declarado, dá-lhe o apelido irônico de “flor-da-moita”. Mesmo sabendo que o pai jamais permitiria que ele se casasse com uma moça pobre e filha de mãe solteira, seduz Eugênia e chega a conquistar um beijo dela. Porém, quando descobre que ela é “coxa de nascença” ou seja, possui uma perna mais curta que a outra, foge, apavorado com a ideia de passar pelo ridículo de casar com uma mulher coxa.

O Pai de Brás Cubas tem o sonho de vê-lo exercendo o cargo de ministro. Para isso, arranja-lhe como noiva Virgília, filha de um figurão da sociedade que facilitará a carreira política do genro. Brás Cubas mostra-se, no entanto, tão apático e incompetente, que acaba perdendo “a noiva e o cargo” para Lobo Neves, um homem arrojado que ele próprio compara com uma águia.

Algum tempo depois, Brás Cubas reencontra Virgília, já casada com Lobo Neves. Desse encontro nasce uma paixão e os dois viram amantes. Virgília é uma mulher ambiciosa e não pretende abrir mão do prestígio social que seu marido lhe proporciona. Assim, durante anos, eles vivem um amor adúltero que só acaba quando Lobo Neves é nomeado governador de uma província e Virgília muda-se para longe do Rio de Janeiro.

Brás Cubas vai envelhecendo solitário e sem ter feito nada de relevante na vida. Com a ajuda da irmã, ainda faz uma última tentativa de casar-se e ter filhos. Fica noivo de Eulália, moça pobre e sobrinha do cunhado Cotrim. A moça, porém, adoece e morre antes do casamento.

Assim, Brás Cubas chega ao final da vida sem ter constituído uma família, sem filhos que dessem prosseguimento ao seu nome e sem ter produzido absolutamente nada que fizesse as pessoas lembrarem dele após a morte. No último capítulo, ironiza seus fracassos afirmando que a vida é mesmo uma miséria e não vale a pena perpetuá-la através dos filhos. Fonte: Geekie.

6. Macunaíma - Mário de Andrade


Uma das mais icônicas obras da primeira fase do Modernismo brasileiro na literatura, “Macunaíma”, de Mário de Andrade, lançada em 1928, narra a história do personagem homônimo, descrito como um “herói sem nenhum caráter”. A obra acompanha do nascimento à morte do “herói”, seguindo principalmente suas aventuras em busca do talismã muiraquitã, deixado para ele por sua mulher, Ci, que transformara-se em estrela. Na luta para achar a pedra mágica, o personagem central percorre as matas virgens da Amazônia e parte rumo a São Paulo, onde deve enfrentar Piaimã, o comedor de gente, então portador do muiraquitã.
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Até hoje Macunaíma segue saudada pela profundidade com que constrói o personagem central, distanciando-o das narrativas clássicas de heróis para pintá-lo com uma humanidade próxima à vida real. O protagonista mente, trapaceia, age por impulso e movido por egoísmo; por outro lado, também mostra-se capaz de atos corajosos, generosos e movidos por bondade, revelando a ambiguidade de seu caráter. É, por isso, considerado um anti-herói. Segundo os críticos, sua falta de caráter seria apenas uma metáfora para a condição jovem, ainda não completamente formada, da nação e da identidade brasileiras.
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Contextos em que a obra poderia ser citada:
– Como metáfora do Brasil enquanto nação cuja educação e formação ética e moral ainda é insipiente, pouco desenvolvida;
– Como ilustração de uma mentalidade que se traduz como “jeitinho brasileiro”, artimanhas pelas quais é possível burlar a lei e, assim, obter vantagens. Fonte: Mondadori.

7. 1984 de George Orwell



“É preciso controle para viver em sociedade?”, baseado no livro 1984, de George Orwell, o cenário de distanciamento em que a humanidade se encontra inserida entro na discussão sobre controle social. Tendo em vista os perigos da contaminação em massa, notou-se que se faz necessário um controle formal por parte das autoridades no sentido de preservação da vida. A pandemia também traz à tona a questão sobre direitos individuais e coletividade. Reflete-se sobre até que ponto o direito de ir e vir de cada indivíduo legitima a possibilidade de contaminação de outras pessoas.

O uso de tecnologia para controle social, entre outros aspectos, indicaram a atemporalidade da obra de Orwell, que mostra o aparato tecnológico como um instrumento utilizado pelo estado autoritário, retratado na trama, para  controlar a população.

Há alguns paradoxos que envolvem o tema, como, por exemplo, o fato das grandes cidades usarem o controle, por câmeras espalhadas pelas ruas, parques e prédios públicos, para garantirem a liberdade de ir e vir, protegendo os transeuntes de assaltos e outra formas de violência.

Outro ponto abordado foi a diferença entre Estado e governo. O primeiro compreende o conjunto de instituições que devem garantir o bem estar-social. Já o segundo, é mutável e seu papel é garantir que essas instituições atinjam a todos, o que nem sempre ocorre. Exercer uma vigilância sobre a população muitas vezes garante a soberania do governo.

Como todas as coisas, o controle tem lados positivos e negativos. Ele pode diminuir a incidência de crimes e garantir um mínimo de ordem social. Em contrapartida, pode impor um discurso autoritário e repressivo. 

Algumas passagens do livro ilustram um contexto do controle excessivo sendo utilizado como forma de confundir, a partir da dicotomia liberdade e segurança, de modo que a história se reescreve o tempo todo e  já não é mais possível se saber quem é o inimigo e contra o que, exatamente, estão lutando. O papel dos meio de comunicação como fonte de informação e construção de conhecimentos, dentro do contexto da obra. Fonte: Ipanema.

8. "O Sol é para Todos"HARPER LEE


Resenha – O Sol é Para Todos – Harper Lee – Atraídos Pela Leitura


“O sol é para todos” de Harper Lee, um dos livros mais marcantes do século XX, apresenta a trajetória personagem Tom Robinson que, vivendo em uma sociedade completamente racista, é condenado por um crime que não cometeu. Mesmo no século XI, no Brasil, situações semelhantes são frequentemente noticiadas, tornando a luta dos negros por igualdade algo constante. Fonte Imaginie.

A escritora americana ganhou o Prêmio Pullitzer de Ficção em 1961 por causa dessa obra. O livro O sol é para todos ficou em primeiro lugar na pesquisa na América do Norte, mas também é um dos preferidos dos advogados brasileiros, é considerado um clássico para quem trabalha na área do Direito. Apesar de ser contado por uma criança o livro é crítico, e aborda as injustiças de um julgamento no tribunal do júri em que os jurados movidos pelo clamor público e pelo preconceito enraizado da região condenaram o acusado, um negro, pelo crime de estupro.
A história é sobre um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca na década de 1930 nos Estados Unidos. Por essa breve sinopse é possível perceber que o tema central da obra é o racismo e a injustiça social. A narradora da história é a filha do advogado, que percebe o contraste social e o preconceito do Sul dos EUA.
Por essa breve sinopse é possível perceber que o tema central da obra é o racismo e a injustiça social. A narradora da história é a filha do advogado, uma criança de menos de 10 anos que percebe o contraste social e o preconceito do Sul dos EUA. O negro fora acusado injustamente por estupro com uso de violência, crime este que poderia levá-lo à pena de morte. A sociedade da época, extremamente preconceituosa e racista, já o considerava culpado antes mesmo de acontecer o tribunal do júri. Como foi nos EUA o crime foi para júri. O acusado ficou preso até o julgamento e após os jurados o condenar retornou à cadeia, mesmo com a brilhante defesa de seu advogado, que acreditava fielmente em sua inocência. Assim, os jurados, movidos pelo clamor público e pelo preconceito enraizado da região, condenaram o acusado pelo crime de estupro.
O advogado Atticus o visita na prisão e diz que continuará com sua defesa para o Tribunal Superior e pedir sua liberdade ou um novo júri, porém não tinha como garantir as coisas. O advogado então pede calma ao acusado e diz que está fazendo o possível para sua libertação ocorrer, porém, não podia dar certeza das coisas, o que fez o acusado ficar desiludido e cansado. Tom Robson, desacreditado da "justiça", tenta fugir, e no momento da fuga, no pular o muro é morto a tiros por guardas da penitenciária. A escritora ressalta no livro que os guardas não sabiam que Tom Robson era inocente, teriam atirado em qualquer outro fugitivo. Tom Robson era visto por todos da penitenciária como qualquer outro detento, ou seja, como culpado, como bandido, como estuprador, mesmo sendo inocente.
Se formos pensar no princípio da presunção de inocência a história se complica ainda mais pois não havia ocorrido o trânsito em julgado. Alguns estudiosos do direito chegam a afirmar que na dúvida quanto aos indícios de autoria e materialidade não deveria sequer haver decisão de pronúncia. No caso do livro houve uma desídia do Estado que tinha o dever de resguardar a vida do preso e cumprir com sua função, não apenas punitiva, mas também de trazê-lo de volta a sociedade, ressocializá-lo.
A autora do livro Harper Lee mostra a dificuldade dos filhos do advogado, duas crianças, de entenderem como pode um homem branco condenar um homem pela sua cor de pele tendo uma delas exclamado: será que elas não pensam que podiam ser elas no lugar dele?! Será que não pensam que poderiam também estar sofrendo esta injustiça? Onde está o erro meu pai?! Porque o promotor olha com desprezo para o réu com olhar acusatório? Porque os jurados que julgam e não o juiz? Seria o caso de termos mudanças legislativas? Levando os leitores a inúmeras reflexões. Os filhos do advogado assistem ao júri e torcem pela brilhante defesa do pai e almejam como o pai a inocência do acusado, o que os deixaram revoltados com a decisão dos jurados.
O livro, como já dito, é contado por uma criança, mas uma criança observadora, crítica e que não é preconceituosa nem racista e que acredita sim que o sol deve ser para todos.
Ana Paula D. Garcia
9. "EU SOU MALALA", MALALA YOUSAFZAI
Resenha – Eu sou Malala
Sinopse: ”Quando o Talibã tomou controle do vale do Swat, uma menina levantou a voz. Malala Yousafzai recusou-se a permanecer em silêncio e lutou pelo seu direito à educação. Mas em 9 de outubro de 2012, uma terça-feira, ela quase pagou o preço com a vida. Malala foi atingida na cabeça por um tiro à queima-roupa dentro do ônibus no qual voltava da escola. Poucos acreditaram que ela sobreviveria. Mas a recuperação milagrosa de Malala a levou em uma viagem extraordinária de um vale remoto no norte do Paquistão para as salas das Nações Unidas em Nova York. Aos dezesseis anos, ela se tornou um símbolo global de protesto pacífico e a candidata mais jovem da história a receber o Prêmio Nobel da Paz. Eu sou Malala é a história de uma família exilada pelo terrorismo global, da luta pelo direito à educação feminina e dos obstáculos à valorização da mulher em uma sociedade que valoriza filhos homens.  […] Sentar numa cadeira, ler meus livros rodeada pelos meus amigos é um direito meu, ela diz numa das últimas passagens do livro. A história de Malala renova a crença na capacidade de uma pessoa de inspirar e modificar o mundo.
‘’Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo.’’
Eu sou Malala (I am Malala) foi escrito por Malala Yousafzai com a colaboração da jornalista Christina Lamb, a biografia conta a história da paquistanesa que em 2012, no vale de Swat, foi baleada por um dos adeptos do grupo Talibã quando voltava da escola, a obra evidencia o sofrimento do povo paquistanês, principalmente as mulheres, diante de problemas sociopolíticos e culturais.
Malala sobreviveu e impactou o cenário mundial como sinal de alerta às atrocidades que ocorrem tanto no Paquistão quanto em outros países, em especial a educação, que é privada de milhares de crianças em locais de conflito. Seguimos não só a trajetória de Malala, mas a história de sua família, do seu país e de tantas outras meninas que passam por dificuldade. A obra contém bastante conteúdo sobre a sua religião, o islã, e de seu grupo étnico, os pashtun, fazendo pequenas referências pessoais como os seus livros favoritos, filmes e música, a leitura é bastante envolvente com uma linguagem simples que engloba amplo público.
‘’Quem é Malala?’’, o livro começa no dia fatídico, um homem adentra no pequeno ônibus a procura de Malala, que nos últimos tempos tinha ganhado notoriedade por palestras pró-educação e criticava o Talibã, ela não teve oportunidade de responder ao seu algoz, ele atira na única garota que não usava o véu, agora ela tem a oportunidade de responder: ‘’Eu sou Malala, e essa é minha história’’.
Nos capítulos seguintes conhecemos a origem de seu nome, inspirado em uma heroína chamada Malalai de Mainwand a ‘’Joana D’Arc pashtun’’, de como seus pais se conheceram quebrando o tabu da época, um casamento por amor, além da vida profissional do pai como diretor de uma escola que passou a receber ameaças e partes angustiantes: o inicio do controle do Talibã no vale de Swat, execuções, ataques de drones (geralmente dos EUA) e a perseguição às meninas, tanto no meio social quanto familiar.
A religião para Malala é muito importante, o livro de certa maneira desconstrói o esteriótipo dos adeptos do islã fazendo duras criticas ao Talibã, como conta no trecho: ‘’O Talibã é contra a educação porque pensa que quando uma criança lê livros ou aprende inglês ou estuda ciência ele ou ela vai se ocidentalizar’’, no que retruca Malala: ‘’Educação não é oriental nem ocidental, é humana’’. Em outro trecho, Malala fala sobre a condição feminina e o Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos: ‘’[…] Queremos ser livres para ir à escola ou para ir trabalhar. Não há nenhum trecho do Corão, que obrigue a mulher a depender do homem. Nenhuma mensagem dos céus estabeleceu que toda mulher deve ouvir um homem’’.

Muitas pessoas pensam que Malala é fruto de seu pai que de certa forma motivou a filha a lutar pelo direito das crianças de irem à escola, mas nunca a obrigou. No documentário quando dizem que o pai escolheu essa vida para ela, a sua resposta foi: ‘’Não. Meu pai só me deu o nome de Malala, ele não me fez Malala, eu escolhi essa vida, não fui forçada, não me mandaram rever essa vida, eu escolhi essa vida e agora devo continuar’’.
Para finalizar, fiquei bastante surpreso pelas referências literárias de Malala e servem de inspiração para as próximas leituras, desde Ana Karenina de Tolstoi, Sherlock Holmes, a autora Jane Austen é citada, O Mágico de Oz e até mesmo Crepúsculo. Apesar de não ser especifica no livro, ela admite no documentário que alguns de seus livros favoritos são O Alquimista, do brasileiro Paulo Coelho, e Uma Breve História do Tempo, do físico inglês Stephen Hawking. Malala também teve grande influência na cultura POP, como por exemplo, nos quadrinhos a nova Miss Marvel de origem paquistanesa chamada Kamala.
10. "FELIZ ANO VELHO", MARCELO RUBENS PAIVA
Além da Contracapa: RESENHA: Feliz Ano Velho
“Você já imaginou uma mãe de cinco crianças ter a sua casa invadida por soldados armados com metralhadoras, levarem seu marido sem nenhuma explicação e desaparecerem com ele? Já imaginou essa mãe também ser presa no dia seguinte, com sua filha de quinze anos, sem nenhuma explicação? Ser torturada psicologicamente e depois ser solta sem nenhuma acusação? Já imaginou essa mãe, depois, pedir explicações aos militares e eles afirmarem que ela nunca fora presa e que seu marido também não estava preso? [...]. É duro, né? Nem Kafka teria pensado em tamanho absurdo.” (PAIVA, 2015, p. 37/38)

***

Feliz Ano Velho é um dos poucos livros obrigatórios que tive que ler no ensino médio que realmente gostei. Tanto a estória de Marcelo, quanto sua narrativa, são extremamente envolventes, e desde aquela época desejava reler a obra.

Em dezembro de 1979, quando tinha 20 anos, Marcelo mergulhou de cabeça em um lago com pouca profundidade. Como resultado, fraturou uma vértebra e ficou tetraplégico. Em Feliz Ano Velho, ele relata sua jornada após o acidente, e também conta episódios de sua vida. 

Marcelo é absolutamente honesto e compartilha de tudo com o leitor: a impaciência com a recuperação, sua adaptação a nova realidade, a comoção gerada entre familiares e amigos, a vida de estudante de Engenharia Agrícola, as aspirações musicais, as muitas namoradas e seu relacionamento com seu pai. 

O pai de Marcelo, Rubens Paiva, foi deputado federal e teve seu mandado cassado após o Golpe Militar. Em 1971, a casa do político foi invadida por militares que o prenderam, assim como a sua esposa e filha mais velha. Marcelo, na época uma criança com onze anos, assistiu a tudo sem entender o que estava acontecendo. E foi assim que cresceu, pois o governo negou que Rubens tivesse sido detido, e a família somente recebeu a confirmação de sua morte em 2014, em função dos trabalhos da Comissão da Verdade. 

Apesar de crescer sem o pai e sofrer o grave acidente que lhe roubou parte dos movimentos, Marcelo não se faz de vítima, nem de derrotado. Apesar de declarar que não escreveu o livro com a intenção de inspirar seus leitores, é impossível ler Feliz Ano Velho e não sentir uma injeção de ânimo. É impossível ler Feliz Ano Velho e não se sentir grato por viver em uma democracia. 

Porém, deixo claro que o desaparecimento de Rubens Paiva está longe de ser o cerne da obra. Marcelo intercala sua jornada de recuperação com inúmeros episódios de sua infância e juventude, incluindo os trágicos eventos que ocorreram em 1971.  

A narrativa do autor é peculiar. Fiquei com a impressão que Marcelo sentou em frente à máquina de escrever e colocou todos os pensamentos e sentimentos no papel, sem papas na língua e sem censura. O mais impressionante é que Marcelo é autêntico, e se revela ao leitor com todas as suas qualidades e defeitos, sem se importar com o julgamento alheio. E esta característica faz com que a narrativa seja extremamente fluída, de modo que o leitor não vê as páginas avançarem. 

Mesmo tendo sido publicada originalmente em 1982, a obra permanece mais atual do que nunca. Seja por mostrar ao leitor que vale a pena viver e lutar pela vida, seja por nos lembrar de um episódio vergonhoso da história da nossa nação. Muito mais que um livro de entretenimento, Feliz Ano Velho é uma biografia emocionante e impactante, que consegue ser, ao mesmo tempo, uma lição de vida e uma aula de história. 

O autor lançou recentemente Ainda Estou Aqui (resenha em breve), livro de memórias em que se aprofunda na estória de sua família.



 





 



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